No dia 20 de junho realizei o sonho de completar a minha terceira Maratona. Foram 42 quilômetros percorridos correndo nas ruas de Porto Alegre. A experiência não é uma vivência apenas esportiva, mas de vida. Não estou falando só de um esporte, mas de um meio que, há algum tempo, encontrei para enfrentar obstáculos e desafios que a vida nos impõe.
Essa maratona foi marcada por tudo que vivemos na Pandemia. Desde março de 2020, não parei de treinar, seja correndo, nadando sozinho e pedalando dentro de casa. Foi a maneira que encontrei de fortalecer a minha saúde para caso algo me acontecesse. Funcionou. Tive COVID em dezembro do ano passado, e superei praticamente sem sintomas. Não foi, é claro, apenas isso, mas tenho certeza que ajudou.
Vivi momentos psicológicos muito difíceis, com crises de ansiedade de pânico em momentos que a maioria de nós acabou passando ao ver familiares indo para hospital, outros com dificuldades ou perdendo emprego. Em meio a isso tudo não pudemos muitas vezes ajudar uns aos outros pela necessidade do distanciamento. Com ajuda profissional e muito equilíbrio superei isso.
Em meus treinos, fui xingado por estar sem máscara e pensei que seria agredido. Ainda que eu estivesse sozinho e mantendo o distanciamento de todos. Não conseguia muitas vezes respirar com a máscara, especialmente nos treinos de mais intensidade. As pessoas se desequilibraram e perderam o bom senso, ou nunca tiveram mesmo. A minha opção foi ignorar e seguir a vida, porque aquele era meu único momento do dia fora de quatro paredes durante o auge do “fique em casa” e minha mente necessitava muito daquilo.
Para não ficar longe de minha mãe e avó, antes delas serem vacinadas, fiz roteiros de modo que eu passasse correndo pela frente da casa delas e pela janela. Fazia uma pausa para conversar e assim fomos levando.
Nos grupos de conversa com amigos que praticam esportes, ouvi muitas vezes a dificuldade com a grande desmotivação e cansaço diante disso tudo. Sem perspectiva de provas, não havia objetivos e metas a serem atingidas. E não podemos viver sem algo a ser alcançado, é inerente ao ser humano. Me desafiei, então. Decidi fazer sozinho a maratona e cumprir os 42Km em uma rota que passasse por lugares que são ou foram importantes ao longo dos meus 41 anos de vida. Mapa traçado, treinos intensificados e cabeça no lugar.
Após a COVID tive o cuidado de ir ao cardiologista. Coração bombando e pleno e o médico me disse que eu estava mais do que pronto. A psicóloga também me aprovou. A nutricionista, disse o mesmo. Restava só eu mesmo acreditar em mim, Quantas pessoas não se identificam com isso? Acredite em si próprio. Não duvide de si!
O outro desafio foi organizar a logística de uma maratona sozinho. Mandei fazer faixas, comprei cones para largada e chegada, contratei um fotógrafo para me acompanhar e alinhei um acompanhamento com o treinador para ir me abastecer durante todo o trajeto com água e isotônico.
Tudo isso foi bom demais. Sofri, mas venci os 42km. É uma sensação indescritível. Naqueles últimos dois quilômetros finais passou esse filme todo em minha cabeça. Lembrei dos piores momentos que vivenciei na pandemia. Na linha de chegada não me faltou ar. Sobrou e pude chorar abraçado dividindo com meus filhos, família e profissionais que me acompanharam naquela conquista que não chamei de minha, mas de nós todos. Se isso tudo puder inspirar um pouco alguém, estarei plenamente realizado.
Marcelo Roxo Matusiak
Jornalista e bacharel em Administração de Empresas
Diretor da PlayPress Assessoria e Conteúdo