Associação Médica do Rio Grande do Sul e Sociedade Gaúcha de Infectologia alertam para aumento do risco, reforçam prevenção e orientam sobre sinais que exigem atendimento imediato
Com a chegada do verão e a elevação das temperaturas, o Rio Grande do Sul entra no período de maior risco para a dengue, quando as condições climáticas favorecem a proliferação do mosquito Aedes aegypti. Diante do aumento sazonal previsto, a Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS) e a Sociedade Gaúcha de Infectologia (SGI) reforçam à população uma série de orientações essenciais para reduzir focos do mosquito, identificar sinais de alerta e buscar assistência médica de forma adequada.
Segundo dados do Painel de Casos de Dengue RS (Base de Dados SINAN Dengue Online), o estado contabilizou 126.664 notificações até a metade de novembro, com 41.970 casos confirmados, sendo mais de 35 mil autóctones — ou seja, casos contraídos dentro do próprio município ou região, evidenciando transmissão local da doença. Desde o início do ano, 51 óbitos foram registrados — número ainda preocupante, porém inferior ao observado em 2024, quando houve 281 mortes. A faixa etária mais atingida entre os casos confirmados é a de 20 a 29 anos, e 55% dos infectados são mulheres, o que torna ainda mais evidente a necessidade de ações contínuas de prevenção para todas as faixas populacionais.
A forma mais eficiente de impedir o avanço da dengue começa dentro de casa, com a eliminação de qualquer ponto que acumule água e sirva de criadouro para o Aedes aegypti, já que a fêmea do mosquito depende de água parada para depositar seus ovos. A recomendação dos especialistas é verificar e vedar reservatórios, como caixas d’água e tonéis; esvaziar e descartar garrafas, latas, pneus e outros recipientes que possam acumular água; além de limpar e manter secas calhas, lajes e vasos, utilizando areia nos pratinhos das plantas. Essa rotina deve ser semanal, dedicando ao menos 10 minutos para uma inspeção completa, considerando que o ciclo de vida do mosquito — do ovo ao inseto adulto — leva entre 7 e 10 dias. Medidas de proteção individual incluem uso adequado de repelentes, instalação de telas em janelas e portas e roupas que cubram braços e pernas, que ajudam a reduzir o risco de picadas e complementam a estratégia de controle da doença.
A dengue exige avaliação médica e qualquer iniciativa de automedicação deve ser descartada, especialmente o uso de AAS (Ácido Acetilsalicílico) ou anti-inflamatórios, que podem agravar o quadro por aumentarem o risco de sangramentos. Ao apresentar os primeiros sinais — febre alta repentina entre 39°C e 40°C, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dores no corpo e nas articulações, mal-estar e fadiga — a orientação é procurar imediatamente uma Unidade Básica de Saúde (UBS) ou o médico de referência. Já a busca por pronto-socorro torna-se indispensável diante de sinais de alarme que podem indicar evolução para a forma grave da doença, como dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes, sangramento de mucosas, manchas vermelhas ou roxas na pele, dificuldade respiratória, sonolência, irritabilidade, confusão mental ou queda de pressão arterial. A identificação rápida desses sintomas é fundamental para evitar complicações e garantir atendimento adequado.
A dengue pode ser semelhante a diversas outras doenças virais ou bacterianas, como Zika, Chikungunya ou inclusive leptopspirose. No entanto, algumas particularidades ajudam a diferenciar: febre alta (em torno de 40°C) de início súbito, acompanhada de dor intensa atrás dos olhos, dores musculares e nas articulações.
O risco de desenvolver a forma grave da dengue é maior em uma segunda ou terceira infecção, já que a doença é causada por quatro sorotipos diferentes do vírus — DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. A primeira infecção costuma gerar imunidade permanente apenas para o sorotipo específico que causou a doença, mas uma nova infecção por outro sorotipo pode desencadear uma resposta imunológica mais intensa, elevando significativamente as chances de complicações graves, incluindo a dengue hemorrágica. Essa característica torna ainda mais importante a prevenção contínua e o acompanhamento médico adequado em casos suspeitos.
A vacina contra a dengue representa uma importante estratégia de proteção individual e coletiva, reduzindo significativamente o risco de hospitalizações e complicações. Embora não substitua as medidas de controle do mosquito, sua aplicação contribui para menor gravidade dos casos e para o impacto geral da circulação viral. O principal papel de proteção da vacina Qdenga é prevenir a doença sintomática e reduzir a gravidade das infecções por dengue. A vacina é segura e eventuais reações adversas costumam ser leves e temporárias.
AMRIGS e SGI seguem atuando de forma conjunta para orientar a população, fortalecer a vigilância e apoiar profissionais de saúde, contribuindo para um verão mais seguro e para a redução dos impactos da doença no Rio Grande do Sul.
Dr. Gerson Junqueira Jr.
Presidente da AMRIGS
Dr. Cezar Würdig Riche
Diretor Científico da Sociedade Gaúcha de Infectologia (SGI)
Sobre a AMRIGS
A Associação Médica do Rio Grande do Sul é uma organização sem fins lucrativos voltada para a atualização do conhecimento técnico-científico e para a realização de debates científico-culturais relacionados à saúde, à Medicina e à vida profissional. Desde o momento de sua fundação em 1951, a AMRIGS integra a vida do médico em todas as etapas da profissão, tendo como objetivos:
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- Ser influenciadora como entidade protagonista de ações em prol da saúde.