Na última semana ao sair com os meus filhos para brincar vi uma criança no escorregador, pronta para descer. Lá no alto ela estacionou e por alguns segundos não teve coragem de descer. O medo não era nem um pouco relacionado a altura, mas ali estava o receio daquele pequeno ser colocar as mãos na lateral do escorregador e se contaminar com o vírus. O que ele fez? Juntou as mãos no peito e desceu. Venceu o seu próprio medo, mas não sem demonstrar de forma bem singela o que aconteceu com todos nós. Certamente aquela criança conviveu por meses com pais assustados e temerosos e se chocou com notícias na mídia. Vai ser preciso muito carinho, responsabilidade e, em muitos casos, orientação profissional, para que esses fantasmas fiquem para trás.
Já ouvi inúmeros casos de pessoas que seguem trancadas e sem sair de casa, mesmo diante das flexibilizações e de um quadro já bem menos agressivo da propagação do vírus. Gente que não colocou o nariz para fora de casa por vários meses e que seguem assustadas impedidas de convívio social. Gente que teve problemas de pele de tanto esfregar as mãos em álcool gel. Não culpo e nem discrimino, mas fico sensibilizado.
Isso mostra que os impactos da pandemia do coronavírus não foram só no contexto econômico, e social, mas psicológico e eles vão durar muitos anos. Não tenham dúvidas disso. Como todos anunciavam, de fato, o isolamento social prolongado e todas as suas consequências são visíveis e assustadoras para crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. É hora de nos unirmos (ainda que tenhamos que permanecer um pouco distantes) com familiares e amigos. Não julgar ninguém, mas entender que não foi fácil e não tem sido fácil para maioria das pessoas.
Marcelo Roxo Matusiak
Jornalista e bacharel em Administração de Empresas
Diretor da PlayPress Assessoria e Conteúdo